Ler as meditações de Padre Gaspar Bertoni sobre a oração é como entrar em uma casa silenciosa e acolhedora, onde cada palavra convida ao recolhimento, e cada frase sussurra o essencial: rezar é respirar. Ele não fala da oração como um exercício técnico ou uma obrigação imposta, mas como o “respiro da alma” — uma necessidade tão natural quanto vital. Assim como o corpo não vive sem ar, a alma não sobrevive sem oração. E é com essa imagem tão simples quanto poderosa que ele começa sua reflexão, dando o tom de toda a sua espiritualidade: orar não é um ato reservado aos santos; é o oxigênio da vida cristã.
Padre Gaspar não compreende a oração como algo apartado da vida, mas como a própria vida em sua profundidade. “Com o coração sempre em Deus” é uma das expressões que resume seu modo de rezar e ensinar a rezar. Ele via a oração não apenas nos momentos formais, mas em cada gesto do dia vivido com atenção e presença. É possível estar lavando, caminhando, trabalhando — e, ainda assim, estar com o coração unido a Deus. A oração, em sua espiritualidade, é como um fogo escondido que aquece toda a casa interior. Não se trata de multiplicar palavras, mas de manter viva a chama da presença. Esse coração voltado para Deus é o que sustenta o cristão nas fadigas e alegrias do cotidiano.
Essa disposição interior, porém, não nasce do acaso. Padre Gaspar insiste com ternura: “tudo é graça”. E, por isso, tudo pode ser oração. Ele nos convida a perceber o toque de Deus nas pequenas coisas, a acolher o ordinário com um olhar de fé. A oração não começa apenas quando se dobra os joelhos, mas quando se reconhece a mão de Deus na vida, mesmo nos detalhes. Rezar, nesse sentido, é mais do que falar com Deus — é viver n’Ele, escutar, agradecer, confiar. Tudo é graça: a saúde e a doença, a paz e o combate, o consolo e a aridez. E quando tudo é graça, tudo pode se tornar oração.
Mas Gaspar sabe que a alma, para rezar bem, precisa de um “clima”, uma disposição interior. Ele nos alerta contra o ativismo, a pressa, o ruído constante. A oração não se impõe num coração distraído ou inquieto. É necessário silêncio, recolhimento, simplicidade. O clima para a oração não é apenas um ambiente externo, mas uma atitude do espírito: esvaziar-se de si para deixar Deus falar. Por isso, ele recomenda com frequência momentos fixos de oração, gestos humildes, uma postura reverente. O orante, segundo Gaspar, deve ser como um discípulo que se senta aos pés do Mestre, disposto a escutar, sem pressa de sair dali.
As experiências vividas de oração, que Padre Gaspar partilha ou sugere, são discretas, mas profundas. Ele não fala de êxtases ou visões, mas de encontros silenciosos, de consolos sutis, de paz sem alarde. Sua oração é a de quem aprendeu a escutar mais do que falar. É a oração de quem, muitas vezes, não sente, mas crê. E é nessa fé perseverante, mesmo em meio à secura, que ele encontra a verdadeira intimidade com Deus. Não há exageros, não há dramatizações — apenas a serenidade de quem sabe que Deus se comunica melhor no silêncio do que na agitação. Suas palavras, ao falar da oração, transmitem paz. Ele não promete espetáculos místicos, mas um caminho firme de presença e confiança.
Entre os vários modos de oração, Padre Gaspar dá especial valor à oração litúrgica, em especial à Liturgia das Horas. Ele via nesse ofício sagrado um verdadeiro alimento para a alma e um serviço indispensável à Igreja. A Liturgia das Horas, para ele, não era um dever mecânico, mas uma oportunidade de unir sua voz à voz da Igreja universal, oferecendo a Deus louvor, intercessão e ação de graças ao longo do dia. Essa oração ritmada, enraizada nos salmos e nas Escrituras, é para ele uma fonte de equilíbrio interior e comunhão com o Corpo de Cristo. E mesmo quando celebrada no silêncio do quarto ou em meio à enfermidade, ela não perde sua força — porque é oração da Igreja, feita por e para todos.
O Ofício Divino de Padre Gaspar, vivido com fidelidade e amor, é um testemunho de que a oração comunitária, longe de ser um peso, é um privilégio. Ele o rezava com a alma recolhida, atento ao mistério, comprometido com cada palavra. Sabia que, por meio daquela oração, Deus transformava o mundo, sustentava os fracos, fortalecia os missionários, consolava os doentes. Era uma participação na missão redentora de Cristo, um modo silencioso, mas eficaz, de cooperar com a graça.
Ao final da leitura dessas meditações, somos tomados por uma serena certeza: a oração, para Padre Gaspar, não é um luxo espiritual, mas o coração da vida cristã. Sem ela, tudo seca, tudo se perde, tudo se dispersa. Com ela, até o mais simples gesto se torna eterno. E o mais belo é perceber que sua proposta de oração não está restrita a monges ou eremitas, mas é oferecida a todos: ao padre no altar, ao leigo em casa, à religiosa no convento, ao enfermo no leito, ao jovem em busca de sentido.
Padre Gaspar nos convida a redescobrir a oração como encontro, como escuta, como entrega. E, mais ainda, nos ajuda a fazer da vida uma oração contínua, onde o coração repousa em Deus e tudo se transforma em louvor. Nesse caminho, não há pressa, não há performance, não há perfeição. Há apenas o desejo sincero de estar com Aquele que nos ama e nos chama ao silêncio fecundo da Sua presença. E, como ele nos ensina, quando se vive com o coração sempre em Deus, até o respirar se torna oração.
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