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Resenha #317 | Inspirada no livro | A Gramática de Padre Gaspar | Vocação para o Ministério Na Igreja
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Resenha #317 | Inspirada no livro | A Gramática de Padre Gaspar | Vocação para o Ministério Na Igreja

“Eu vos escolhi” — esse eco do Evangelho ressoa com força nos escritos de Gaspar. A eleição divina não se baseia em méritos, capacidades ou prestígio.

A vocação para o ministério na Igreja, conforme refletida nas meditações de Padre Gaspar Bertoni, revela-se como um fio divino que entrelaça o mistério da eleição com a resposta humana. É um tema que ele trata com reverência, profundidade e sensibilidade espiritual, convidando-nos a compreender que a vocação não é uma escolha entre tantas, mas um chamado de amor, feito por um Deus que nos conheceu e nos amou desde sempre.

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“Eu vos escolhi” — esse eco do Evangelho ressoa com força nos escritos de Gaspar. A eleição divina não se baseia em méritos, capacidades ou prestígio. Ao contrário, ela mira muitas vezes o que é pequeno, frágil, desprezado, para ali fazer brilhar sua glória. “Deus escolheu o que no mundo é fraco” — não como ironia, mas como expressão de sua ternura. A vocação é sempre surpreendente, porque rompe com os critérios humanos e se ancora na liberdade de Deus, que chama quem quer, quando quer, como quer.

Padre Gaspar insiste que a vocação é, antes de tudo, um mistério de amor. “Deus nos ama há muito tempo” — essa certeza, repetida com simplicidade, é o fundamento da confiança de quem se sente chamado. Não somos peças movidas ao acaso, nem resultado de um impulso do momento. Somos, em sua visão, amados desde a eternidade, pensados por Deus com um carinho infinito. O chamado, portanto, não nasce do acaso nem da conveniência, mas de um plano amoroso que nos precede e nos acompanha.

Nesse caminho, a vocação se revela como “uma corrente de graças”. Padre Gaspar vê a vida vocacional como um rio contínuo, sustentado por sucessivas intervenções divinas. Não basta um momento inicial de entusiasmo. É preciso, como ele mesmo diz, “fortalecer cada vez mais a vocação”, alimentá-la com oração, vigilância, humildade e fidelidade. Porque a vocação é um dom, sim, mas também uma tarefa. É uma semente que precisa ser cultivada com perseverança, mesmo quando o solo parece duro ou a chuva escassa.

Com sabedoria pastoral, Padre Gaspar reconhece que ninguém amadurece a própria vocação sozinho. A Igreja, diz ele, é mãe e mestra nesse processo. É ela quem “prepara as vocações consagradas”, oferecendo caminhos de discernimento, formação espiritual e acompanhamento fraterno. Mas vai além: ela também “faz amadurecer as vocações consagradas”, ajudando os chamados a crescerem na liberdade e na profundidade de sua entrega. Para Gaspar, o ambiente eclesial é lugar de escuta, de provações, mas também de confirmação. É no seio da comunidade que a vocação é discernida, testada e selada.

Responder ao chamado é, pois, um ato de coragem. Não se trata apenas de dizer “sim” num instante de fervor, mas de sustentar esse sim todos os dias, muitas vezes em meio à incompreensão, à solidão ou mesmo à rejeição. “Se o mundo vos odeia, sabei que antes odiou a mim”, lembra Gaspar, citando as palavras de Jesus. O ministério na Igreja nunca foi, nem será, um caminho isento de cruz. O escolhido, justamente por sê-lo, experimenta os ventos contrários, as resistências, a luta interior. Mas nessa luta há sentido, há fecundidade, há união com Cristo.

Ao falar da resposta à vocação, Gaspar não adota um tom exigente ou culpabilizador. Pelo contrário, ele convida com delicadeza: “Como responder ao chamado?” — a pergunta não é retórica, mas existencial. Responder ao chamado é deixar-se conduzir, é confiar, é lançar-se com fé onde nem sempre se vê o chão. E, ao mesmo tempo, é tarefa constante: “Reavivar sempre o dom de Deus” não é apenas conselho piedoso, mas direção clara. O dom não é um objeto que se guarda, mas uma chama que precisa ser constantemente alimentada, sob risco de se apagar.

É tocante notar que, mesmo diante das dificuldades da vida ministerial, Gaspar jamais perde o entusiasmo sereno. Sua confiança em Deus é inabalável. Ele vê cada vocação como um elo de um grande plano de salvação. E acredita profundamente na ação da graça, mesmo nas fraquezas humanas. Seu olhar não é idealista, mas realista com esperança. Ele sabe que o ministério é exigente, mas também sabe que quem é chamado, é sustentado. Não pelo próprio braço, mas pela fidelidade de Deus, que “é fiel àquele que chamou”.

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Por tudo isso, a meditação de Padre Gaspar sobre a vocação e o ministério na Igreja não é apenas um texto devocional. É uma carta de amor, um guia espiritual e uma exortação cheia de ternura. É um chamado dentro do chamado — um apelo para que cada consagrado, seminarista ou vocacionado relembre a beleza do início, persevere no caminho e renove, com confiança, seu sim. É também um alerta para a Igreja de hoje: as vocações são dom precioso, mas precisam ser acolhidas, cuidadas, acompanhadas. São flores frágeis que não crescem no descuido ou na indiferença.

Ler Padre Gaspar é mergulhar numa espiritualidade de confiança, onde o mistério do chamado se entrelaça com a liberdade do homem e a fidelidade de Deus. Seu ensinamento continua atual porque toca o que há de mais essencial: Deus chama, ama, envia e sustenta. E a resposta a esse chamado é o início de uma história santa, única e transformadora. A cada geração, esse chamado se renova. E a cada sim, a história da salvação continua sendo escrita.

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