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Resenha #306 | Inspirada no livro | A Gramática de Padre Gaspar | Amar a Deus Sobre Todas As Coisas
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Resenha #306 | Inspirada no livro | A Gramática de Padre Gaspar | Amar a Deus Sobre Todas As Coisas

Padre Gaspar, inspirado por uma espiritualidade radical e afetuosa, nos conduz por uma jornada reflexiva e existencial, que convoca o leitor não apenas à contemplação....

Na obra “A Gramática de Padre Gaspar: Meditações Cotidianas”, encontramos um itinerário espiritual profundamente enraizado no amor a Deus, sintetizado nas seções que abordam o tema “Amar a Deus sobre todas as coisas”. Padre Gaspar, inspirado por uma espiritualidade radical e afetuosa, nos conduz por uma jornada reflexiva e existencial, que convoca o leitor não apenas à contemplação, mas ao compromisso vital com o amor divino.

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Desde o ponto de partida — “Nosso Coração Foi Feito para Deus” — o texto assume um tom quase confidencial, como se revelasse um segredo antigo, mas sempre novo. Há aqui uma antropologia teológica muito clara: o ser humano encontra sua plenitude apenas quando retorna ao seu Criador. Gaspar não se limita a afirmar um preceito moral; ele expressa uma verdade existencial: o coração humano, inquieto e faminto, só encontra descanso em Deus. Essa afirmação, embora aparentemente simples, carrega consigo uma denúncia silenciosa à cultura da dispersão e do imediatismo que muitas vezes rouba o centro do coração humano.

Ao desenvolver a ideia de “Corresponder ao Amor com Amor”, o autor abandona a linguagem normativa e entra num campo relacional. Deus, que ama primeiro, torna-se o modelo e o motor de toda resposta amorosa. Aqui a espiritualidade de Gaspar adquire feição afetiva, mas sem sentimentalismos. A resposta ao amor de Deus não se dá apenas na oração contemplativa, mas principalmente em atitudes concretas de entrega, renúncia e caridade. Não amar a Deus é, em última análise, resistir à própria vocação essencial.

Com um olhar profundamente incarnado, a meditação sobre “Amar a Deus nas Criaturas” reforça que o amor a Deus não nos aliena do mundo, mas nos reconcilia com ele. O Criador se reflete em sua criação; cada ser, cada beleza natural, cada gesto de bondade humana torna-se um espelho do divino. Gaspar nos ensina que a verdadeira espiritualidade é inclusiva: não rejeita o mundo, mas o redime pela ótica do amor. Isso representa uma crítica sutil àquelas espiritualidades que, ao buscarem o divino, acabam negando o valor da matéria e das relações humanas.

O ponto alto de sua proposta aparece em “Dar-se a Deus sem Reserva”. Aqui está o cerne de sua gramática espiritual: um amor que não se contenta com metades. Deus, que se deu totalmente, espera de nós a mesma radicalidade. A entrega total não é apenas exigência moral, mas consequência lógica de quem foi tocado pelo amor incondicional. Gaspar fala com a paixão de um místico e a lucidez de um pedagogo espiritual. Ele sabe que o caminho não é fácil, mas o apresenta como possível, necessário e, acima de tudo, desejável.

Quando ele exclama: “Amemos a Deus, amemos a Deus!”, não há repetição vazia, mas um grito do coração inflamado, como um eco da alma que encontrou seu sentido. Essa insistência, quase clamando, revela que amar a Deus é uma urgência vital. É como se dissesse: “Não podemos adiar mais essa resposta!” Sua linguagem, embora devocional, ganha densidade existencial, transformando a mística em missão, a devoção em movimento.

E então, quase como um retrato vivo dessa entrega apaixonada, surge a figura de São Luís Gonzaga — “Um Apaixonado por Deus”. Em São Luís, Padre Gaspar vê encarnado tudo o que pregou até ali: juventude consagrada, renúncia radical, amor ardente. Ele não usa o santo como mero exemplo moral, mas como espelho da possibilidade humana de viver em plenitude o amor de Deus. São Luís não é apresentado como alguém distante, mas como irmão mais velho na fé, que aponta o caminho da santidade pela via do amor.

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A narrativa espiritual de Padre Gaspar não é, pois, apenas uma série de meditações; é um convite à conversão do coração, à retomada do sentido da vida como resposta amorosa a um Deus que nos quis por amor. Seu estilo é simples, mas carregado de profundidade. Ele não pretende convencer por argumentos lógicos, mas por uma verdade que transborda da experiência vivida: o coração humano foi feito para amar a Deus e só será feliz quando viver esse amor plenamente.

Ler essa obra é como sentar-se diante de um espelho que não mostra apenas o que somos, mas o que estamos chamados a ser. A espiritualidade de Padre Gaspar, calorosa e exigente, mística e prática, convida a um cristianismo autêntico, que não se contenta com ritos nem com palavras, mas busca o coração de Deus com todo o ser. É uma gramática da alma, que ensina não só a falar de Deus, mas a viver para Ele. E essa lição, no fundo, é a mais urgente de todas.

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